domingo, 18 de novembro de 2012

...Marina Pacheco



Hoje, convido todos os meus leitores a escolherem a sua sala de espectáculos preferida e deixarem-se arrancar do chão num vôo de elegância e inteligência.
A minha convidada chama-se Marina Pacheco, é soprano e, nos seus 26 deliciosos anos conta já com um curriculum invejável no mundo da ópera.
O pano vai abrir…. Descontraiam e estejam atentos que esta conversa é um mimo arrepiante e sonhador!



Olá, Marina! A tua elegância vocal começa a brilhar pela Europa e a ser notícia em Portugal. Sempre foi este o teu sonho?
Olá, Inês! Sim, desde pequena que adoro cantar. É uma sensação mágica de felicidade absoluta. Sentia-me perfeitamente bem em palco (desde os Pequenos Cantores da Maia, onde fui admitida aos 5 anos). Em casa, brincava ao espelho imitando cantores e bailarinos. As artes de palco fascinam-me desde sempre, sejam elas quais forem! Sempre foi um sonho seguir uma carreira musical e ser uma artista, mas a certa altura tive de perceber se queria que fosse apenas um sonho ou lutar para que se tornasse a minha realidade. 
Tu cantas com uma segurança e maturidade de quem não tem 26 anos... isto advém de muito trabalho? Quantas horas cantas por dia e que cuidados tens com a voz?

Aos 26 anos, quase 27 (em Dezembro), olho para trás e sinto que sou o resultado de todas as vivências pessoais, académicas e profissionais que tive. Aprendi muito, absorvi muito e uso tudo isso para construir aquilo que sou em palco. Naturalmente há, em paralelo, um trabalho enorme solitário: estudo de partituras, trabalho de dicção, pesquisa histórica e cultural, trabalho de tradução...tudo o que envolve ir para palco segura de que sei o que estou a transmitir e que trabalhei tecnicamente para que a obra esteja no meu corpo e na minha voz.


"Yo soy Maria", de A. Piazzolla, com Olga Amaro no piano

Porquê a ópera?

A ópera foi uma descoberta curiosa. A minha família ouvia música clássica, logo o estilo musical não me era estranho. Aos 8 anos já admirava o Pavarotti, por exemplo! 
Quando ingressei nas aulas de Canto, aos 13 anos, com o professor Pedro Telles, queria apenas aprender a cantar, corrigir posturas e erros que pudesse ter adoptado e que fossem menos apropriados. Mas ele viu em mim mais do que uma voz bonitinha! Ele viu algo de artista e cantora lírica e desafiou-me a tentar! Eu não disse que não! Achava que era perfeitamente legítimo experimentar. Mas acabei maravilhada com o que podia fazer com a minha voz e que até ali nem desconfiava ser possível. Fascinava-me o desafio!! Sem dúvida. Comecei, então, a ouvir mais ópera, a procurar aprender mais. Fui assistir à minha primeira ópera no Coliseu do Porto com a minha mãe e lembro-me que o Pedro Telles interpretava o Dr. Malatesta no Don Pasquale. Adorei! A minha mãe também estava encantada. Levou-me aos bastidores para cumprimentar o meu professor! Ele disse-nos "a sua filha vai ser cantora de ópera!". A partir daí nunca mais parei!!!
Tu consegues sentir o quanto cresceste a nível vocal nos últimos anos?

É claro para nós cantores sentirmos o que evoluimos, seja pela natural maturidade física e emocional, seja pelo facto de sentirmos mais facilidade ou pela simples possibilidade de nos ouvirmos em gravações e podermos ter termo de comparação. Olho para trás e vejo evolução, assim como tenho consciência de que há ainda muito a crescer. É uma construção e uma aprendizagem contínua e eterna, algo que me fascina nesta carreira, pois adoro estar sempre a aprender.



Para quem te está a "ler" neste momento e pensa "como é que eu vou viver da ópera?"....o que terias tu a dizer?

Hoje em dia viver de qualquer profissão é uma incógnita. Logo, sinto-me extremamente feliz por poder fazer o que gosto. É necessário muito empenho e dedicação e ter consciência de que não há dias de semana e fins-de-semana ou que nos levantamos a tal hora e ao fim da tarde estamos livres para ir descansar. Muitas vezes não há férias e a noção de tempo não existe! É preciso um enorme investimento emocional, físico e económico para podermos chegar longe e viver da ópera/ do canto lírico!

Que importância tiveram para ti nomes como Pedro Telles, Jairo Grossi e o Coro de S. Tarcísio?
O Pedro Telles foi o meu primeiro professor. Devo-lhe o facto de ter seguido esta carreira, devo-lhe o espírito positivo e a coragem de lutar por algo que me faz feliz. Tornou-se um amigo e faz parte da minha vida duma forma muito especial!
O Jairo Grossi acompanhou-me inúmeras vezes. Deu-me conselhos, esteve lá quando precisei e foi responsável pela minha admiração pelos pianistas acompanhadores! O Jairo é um pianista maravilhoso e um ser humano fantástico. Tanto o Pedro como o Jairo me deram a oportunidade de partilhar o palco com o coro de S. Tarcísio, o qual dirigem brilhantemente! Foi uma honra trabalhar com estes três nomes e espero que em breve se repita, se as nossas agendas permitirem. 

A ópera também te permite viajar imenso e conhecer pessoas de outras raças e culturas.... curiosamente, o que vos une é a música e as histórias dos espectáculos onde actuas....

Esta carreira permite-me conhecer mundo, conhecer culturas e conhecer pessoas formidáveis! Tenho amigos em todos os cantos do mundo e, apesar de não ser possível falarmos todos os dias, sabemos sempre uns dos outros e torcemos pelas carreiras uns dos outros. Une-nos o nosso amor à música, o nosso espírito lutador de ir atrás de oportunidades e a enorme vontade de sermos reconhecidos nos nossos países e internacionalmente. Partilhamos as nossas experiências e acabamos por descobrir que temos amigos em comum!!!
Alguma sala de espectáculos que te tenha marcado em particular?

Todas as salas ganham uma magia especial para mim. Todas elas escondem histórias, todas elas me permitiram viver histórias! É uma honra olhar para trás e reviver os momentos passados nele e em tantos outros palcos.
Nesta vida tão nómada e musical, onde vais tu buscar mais prazer? Nos ensaios ou no palco?

Toda a instabilidade que esta vida musical me provoca é totalmente compensada pela performance em palco. Sinto-me totalmente realizada!!! Os ensaios representam todo o processo de construção de um espectáculo, mas é no momento de ir para palco que tudo ganha magia, pois nós artistas não existimos sem público e é quando o pano sobe e o nosso público está lá que tudo vale a pena! É para e pelo público que nós existimos!!!
"Nunca estás completamente vestido sem um sorriso..." Queres comentar? ( sorrisos)

Adoro esta frase! É do musical Annie... um dos meus favoritos! Adoro a história, a mensagem e as músicas. E numa delas, quando um grupinho de meninas canta no orfanato, onde não têm um pingo de carinho, mas mesmo assim conseguem sorrir, destaca-se esta frase.. Naturalmente tornou-se o meu lema de vida. Adoro sorrir! A vida é curta demais para a desperdiçarmos e um sorriso resolve ou ajuda a resolver tantas coisas.


Qual é o teu limite? Tu tens noção que podes vir a ser uma referência internacional neste género? - neste momento, tu és notícia nas melhores salas da Europa, nos Media Portugueses ( que, infelizmente, até nem costumam dar muito destaque a este género musical...)?

Não tenho limites, vou até onde me for possível. Adoraria ser uma referência internacional, mas ainda há muito para trabalhar e evoluir! Passo a passo vou vivendo as minhas conquistas e tentando manter os pés assentes na terra, percebendo que há muito a conhecer, a aprender e a melhorar. 
Neste momento, és a imagem de uma designer de jóias...As duas artes complementam-se? Brilham juntas?

Joana Ribeiro Joalharia é a marca de uma jovem designer muito talentosa. Identifico-me com a beleza do seu trabalho e aceitei, sem pensar duas vezes, fazer uma sessão fotográfica para a marca. A arte é arte, por isso todas as suas formas se complementam, resultando num brilho único. 
Como reages às críticas?

Reajo muito bem. A crítica é o que me faz crescer, logo, seja ela qual for, aceito e dou-lhe valor, procurando retirar tudo o que me possa fazer melhorar.
Para quando um espectáculo na cidade do Porto?

Dia 21 de Dezembro, às 21h, estarei na Casa da Música, na Sala Suggia, para um concerto de Natal, com a Orquestra Sinfónica do Porto e o Coro da Casa da Música. O concerto será dirigido por Christopher König.
Em 2013 voltarei a estar na Casa da Música, em Abril e ainda antes disso espero ter um projecto meu com a Olga Amaro e o actor/encenador Pedro Lamares a ser estreado na cidade do Porto, também. 
Já pensaste escrever a tua própria ópera?

Eu dediquei-me totalmente ao canto, logo não tenho qualquer competência para me aventurar na área da composição. Aquilo que me faz sentir realizada é pegar numa peça já composta e dar-lhe a minha interpretação. 
Achas que este género musical está muito longe daquilo a que a maioria dos portugueses dão valor? Será que a cultura musical ( e não só) devia ser uma disciplina obrigatória num ensino pré-primário? Como podemos mudar a mentalidade face a um género musical que muitos ainda colam a determinado estrato social?

Felizmente o gosto pela música erudita é cada vez maior e prova disso são as salas cheias de público (com uma percentagem de jovens bem considerável, sinal de que as mentalidades estão a mudar). Por outro lado, a quantidade de candidaturas ao ensino superior de música é cada vez maior. Também há uma aposta crescente por parte das Academias de Música e Conservatórios para criar condições a crianças de todas as camadas sociais para que possam ter acesso ao ensino musical e contacto com este tipo de música. A adesão é cada vez maior.
Naturalmente, há um trabalho de divulgação a fazer e é também importante a criação de estratégias para cativar todo o tipo de público.
Como está a tua Agenda até ao final do ano e onde é que as pessoas podem aceder aos teus próximos espectáculos?

O meu site www.marinapacheco.com será alvo de uma renovação, no entanto, a agenda está sempre actualizada. A minha página oficial do Facebook é a forma mais directa de contacto comigo e fonte de informação regularmente actualizada. Em www.facebook.com/marinapachecosoprano são partilhadas todas as conquistas, reportagens, novidades e actualizações de agenda. Procuro ainda responder a todos os que entram em contacto comigo!
Até ao fim do ano estou bastante ocupada com um espectáculo no Teatro Maria Matos, em Lisboa (A Africana) e o Concerto de Natal da Casa da Música.
O que recomendarias a alguém que tenha, como sonho, seguir esta área?

As palavras de ordem são persistência e força de vontade! Não é fácil escolher esta área como profissão, mas tendo consciência de que o retorno é extremamente positivo, tudo se consegue.

O que te faz SER feliz?
Poder fazer profissionalmente aquilo que mais amo na vida: CANTAR.


Marina, muito, muito obrigada! Foi um prazer revêr-te após tantos anos, sentir o quanto cresceste como cantora e como mulher e, acima de tudo, gostava de te dar os parabéns por te deixares ir onde te levam o coração e o sorriso.
Se não fôr antes, encontro marcado contigo na Casa da Música, no próximo dia 21 de Dezembro!


Só para terminar, dois vídeos ( o primeiro, irá relembrar a infância de muitos de nós; o segundo, uma belíssima reportagem da RTP no Programa 30 Minutos):



http://www.youtube.com/watch?v=6qrSqR_Hl8U&list=UUHbha3R10SNqqyJk_5xkEWg&index=11&feature=plcp


Despeço-me até à próxima conversa com uma pessoa improvável, num lugar perto de si....







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