sábado, 18 de abril de 2015

... Raquel Martins, a Psicóloga da Felicidade...






Conheci a Raquel Martins, há um bom par de anos, como paciente das suas consultas.
Juntas, fizemos um caminho paralelo de orientação e aprendizagem, intuição e desbloqueios.
As nossas histórias cruzaram-se no âmbito profissional e, hoje, somos amigas.
Sou fascinada pela sua forma de estar na vida, pelo olhar tranquilo, pela paz que emana, pelos projetos fantásticos que, a qualquer momento, cria, estrutura, planeia e concretiza.
A Raquel é psicóloga num estabelecimento prisional e trabalha na Made in You, onde criou "A Consulta da Felicidade"...
Recostem-se no divã e deixem-se levar por mais uma história de vida interessante e genuinamente feliz...
 
 
O que te fez escolher Psicologia? 
Quando escolhi ser Psicóloga tinha 15 anos. Nem sabia bem o que era ser Psicóloga! Mesmo hoje em dia é sempre uma identidade que construo em parceria com todas as pessoas com quem trabalho.
Voltando aos 15 anos… Era uma adolescente e vi-me forçada a escolher um sentido profissional. Já questionava tudo o que fosse relacionado com o sofrimento humano, a justiça social e a felicidade.
Comecei a perceber que todos temos que fazer constantes escolhas e que essa capacidade determina em grande medida a forma como lidamos connosco e com as consequências dos nossos atos.
Adorava tudo o que fosse relacionado com o desvio (filmes, livros, documentários) e o lado “mais obscuro” do Ser Humano. Adorava conversar sobre a vida e comecei a perceber que todas as pessoas têm o poder de construir ou privar-se da felicidade por responsabilidade própria, através de escolhas e trajetórias de vida que em algum momento se viram envolvidas. Tive bons professores, cruzei-me com bons livros, sempre adorei perceber as causas de tudo.
Escolhi nessa altura que queria entrar na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e trabalhar num Estabelecimento Prisional. Licenciei-me na área do Comportamento Desviante e da Justiça, com equivalência a Psicologia Clínica e da Saúde em 2007, tendo concluído um Mestrado em Temas em 2009.
Durante os meus estudos académicos e estágios lidei sempre com populações com algum grau de exclusão Social, como prostitutos (as), toxicodependentes, vítimas de crimes, delinquentes juvenis e reclusos.
Atualmente, trabalho no Estabelecimento Prisional do Porto há 6 anos, algo que escolhi com 15 anos! Acredito que quando alimentamos algo na nossa mente e decidimos um caminho a seguir que, inevitavelmente, a vida nos mostra exatamente o que pedimos. E acho que a vontade de ser Psicóloga veio daí, por entender que os nossos pensamentos, emoções e comportamentos são decisivos para determinar sentidos de vida. Ser Psicóloga é um trabalho de construir sentidos e isso sempre me atraiu.
 
 
 
Já fazes Psicoterapia há uns anos e neste momento tens um projeto muito interessante que é a Consulta da Felicidade, na Made in You.
Fala-nos um bocadinho deste sonho tornado realidade. 
Sim, faço Psicoterapia desde 2007. O Made in You nasceu em 2011 e é um projeto ligado à Psicologia e Desenvolvimento Pessoal com vários serviços, nomeadamente Psicoterapias da Criança, Adolescente, Adulto e Idoso, Avaliação Psicológica e Terapia de Casal.
A Consulta da Felicidade é uma intervenção desenvolvida em 2014, mais ligada à área da Psicologia Positiva que retira o foco da doença, para focar nas virtudes pessoais da pessoa, para que ela possa desenvolver capacidades e potencial para atingir objetivos mais adaptados aos níveis de bem-estar que pretende atingir.
A Consulta da Felicidade está dividida em 4 sessões (o Pack Felicidade), realizadas durante um mês, em 4 semanas consecutivas: Forças, Reflexão, Planeamento e Ação.
Qualquer pessoa pode solicitar este serviço. Mesmo aquela que apenas pretenda conhecer-se melhor. Normalmente, numa consulta inicial a pessoa é aconselhada sobre a melhor terapia no seu caso.
Podem também solicitar gratuitamente o “Rastreio da Felicidade” que é uma atividade de aconselhamento.
 
 

Tem tido resultados muito interessantes, porque ajuda na tomada de consciência e reflexão acerca dos eventos de vida mais traumatizantes e que criam uma forma de funcionamento específica. Todas as sessões vão no seguimento de criação de estruturas de vida mais saudáveis que promovem melhorias significativas no bem-estar subjetivo de cada um.
Por outro lado, tem sido um desafio interessante, pois é uma forma de empreendedorismo na Psicologia e desmistifica a ideia de que só vai ao Psicólogo quem “está maluco” ou “doente”. Claro que cada vez mais as pessoas estão mais informadas e eu sou daquelas que defendo que todas as pessoas, tal como têm um médico de família, poderiam ter desde logo acompanhamento psicológico. O Auto-conhecimento ajuda no entendimento de estados e emoções e na sua gestão mais equilibrada para que, dessa forma, tudo o que a pessoa concretiza e faz está mais relacionado com o que realmente lhe faz bem.
 
 
Achas que hoje em dia as Pessoas estão preocupadas em ser Felizes? 
Acho que preocupação anula a Felicidade J. Aparecem pessoas realmente preocupadas com o seu bem-estar e com vontade de se ocuparem com a sua Felicidade.
A maior parte dos casos estão relacionados com ansiedade, com dificuldade em gerir o tempo, os papéis, por problemas financeiros, relacionais, por luto, eventos traumáticos e quadros depressivos.
Acho que a Sociedade promove uma série de distrações e “hipnotismo social” e que, a certa altura, as pessoas ficam desorientadas, sem saber muito bem onde estão. O trabalho é fazer com que consigam desenvolver um olhar mais interno e que descubram que o estado de Felicidade depende muito mais dessa descoberta em primeiro lugar, do que qualquer situação que aconteça externamente. É como um mecanismo que se retroalimenta. Se eu estou bem, tudo à minha volta estará também muito melhor.
Mas esse estado de impaciência perante a vida, a não resignação perante a adversidade e a vontade de melhorar sempre está cada vez mais presente nos Portugueses que procuram este tipo de intervenção para o seu desenvolvimento pessoal.
 
No teu caminho, a par deste projeto, trabalhas com reclusos em estabelecimento prisional…. Como abordas a felicidade em pessoas que estão privadas da liberdade? 
As pessoas que se encontram privadas de liberdade por incumprimento legal são, obviamente, pessoas que são mais do que o crime que cometem. São pessoas que têm família, um trajeto próprio de vida, uma identidade e que têm muito mais de semelhante do que de diferente, comparativamente aos que não estão privados de liberdade, pelo menos física. Porque há muita gente privada de liberdade, mesmo sem o estar, efetivamente, intramuros.
O trabalho que normalmente desenvolvo tem a ver com a tomada de consciência do crime e das causas da reclusão, a responsabilização, a aceitação e adaptação ao contexto. Porque quem está privado de liberdade está constantemente a lidar com a frustração e com a aparente perda de identidade. O apoio pretende a gestão dos sentimentos de culta, revolta, estados agressivos. Claro que há uma infinidade de casos. E nem todos podem ser abordados da mesma forma e os resultados dependem muito da motivação do indivíduo e da sua trajetória anterior. É bastante complexo ser-se Feliz preso.
O importante é saber que o sofrimento existe e a sua gestão depende da atitude mental e da descoberta das causas e de si mesmo. O ser humano precisa aprender a capacidade de adaptação aos contextos e às vezes isso leva o seu tempo e a terapia passa por diversas fases. De avanços e recuos, de sucessos e fracassos. A Felicidade posso chamar-lhe aqui como a capacidade de adaptação e resistência perante a adversidade. Um ser adaptado sente-se melhor, do que aquele que luta contra a realidade. Um ser adaptado mais facilmente se inclui, sem perder a sua identidade própria. No fundo, a liberdade constrói-se.
 

Quão desafiante é para ti, trabalhar com pessoas que estão fechadas, “castigadas” e com anos de reclusão pela frente? Como trabalhas os sonhos dessas pessoas? 
O trabalho é feito no sentido que a pessoas não percam a capacidade de sonhar ou que constantemente reconstruam um sentido e quadro de referência e isso depende de vários fatores.
Construir sonhos é dar sentido, desafiar-se, ter objetivos. Se isso não acontece os estados depressivos reativos à situação instalam-se e as ideias suicidas aumentam.
Considero fundamental fazer desenvolver competências pessoais e sociais, melhorar a auto-estima, aumentar a prática de desporto. O equilíbrio pelos dias pode já ser um sonho! Quanto melhor estiver agora, mais apto estarei para viver um outro sonho em liberdade.
 
Há uma continuidade do trabalho que fazes na prisão, nas consultas do Made in You, ou são espaços e assuntos de cariz diferente? 
Digamos que é tudo diferente e tudo igual. Porque um Psicólogo sempre trabalha com um indivíduo na sua circunstância própria, independentemente do modelo de intervenção que utiliza ou local em que está.
No Estabelecimento Prisional do Porto trabalho com uma equipa multidisciplinar e  realizo terapias de Grupo em Programas de intervenção específicos, como ligados à Toxicodependência e Prevenção do Suicídio. Aqui as intervenções em crise são mais frequentes, comparativamente à Clínica Made in You, em que as marcações e atendimentos são mais estruturados.
 
Na Made in You já fizeste um workshop de Meditação que foi um sucesso…
Que impacto pode ter a meditação diária, nos dias corridos que todos levamos? 
A Meditação pode ter impacto a todos os níveis (físico e psicológico). É um momento de Ação consciente – MeditAÇÃO, em que a pessoa vai Ditar algo a si própria sobre o que se passa no seu mundo interno (Vou me ditar algo, digamos assim). É apenas um exercício de concentração que auxilia no processo de auto-conhecimento e consequente cura.
Existem benefícios psicológicos como: melhoria na qualidade do sono aumento dos níveis de concentração, permite a identificação e controlo mais eficaz sobre as emoções perturbadoras, como a raiva e a ansiedade, apreciação mais profunda do presente que é uma dádiva, maior controlo dos pensamentos e melhoria da comunicação entre os níveis consciente e inconsciente.
Existem várias técnicas que podem ser utilizadas na prática da Meditação e que é muito útil aprendê-las. Todas as pessoas podem meditar e não precisam pertencer a nenhum movimento oriental para tal. A Meditação como prática Ocidental já existe há muitos anos e pode perfeitamente ser praticada na nossa cultura como um método terapêutico também extremamente eficaz.
 

Para quem não fez o Workshop, por onde começar? 
Pode começar agora mesmo! A Meditação não necessita de ser praticada apenas num local isolado, com posições específicas. Pois bem, para quem quer começar pode apenas focalizar neste momento a sua atenção para si e auto-observar-se como se fosse um elemento neutro que apenas observa o que se passa. Pode questionar-se: O que estou a fazer neste momento? Quais são as minhas sensações físicas neste momento? Qual é o meu estado mental neste momento? Como estou a viver? Até que ponto tenho domínio sobre a minha vida? Isto já é meditar.
Pode também sentar-se confortavelmente num local onde saiba que não vai ser interrompido (a), numa posição confortável, com uma música que seja do seu agrado e começar a concentrar-se nos movimentos respiratórios, através da respiração abdominal. Existem centenas de exercícios respiratórios.
Pode simplesmente contemplar um objeto, um ser vivo e perceber o que o mesmo lhe transmite. Pode focar num tema que considere curativo, virtuoso e simplesmente canalizar o pensamento para palavras e sensações relacionadas com esse tema, reforçando para si o estado que quer atrair.
Para dar continuidade é preciso que se pratique, enquanto se caminha, em casa, no trabalho, a conduzir, na natureza, em qualquer local! Quanto mais for repetida mais os benefícios começam a sentir-se e, a partir de certa altura torna-se uma prática tão natural como alimentar-se ou dormir.
 
Tu és uma “nascente” de boas ideias… Qua projeto podes partilhar connosco que vás implementar a curto/médio prazo? 
Obrigada J. É verdade, existem centenas de projetos que podem ser implementados!
A médio prazo gostaria de iniciar um grupo de Meditação semanal, desenvolver mais workshops relacionados com a gestão emocional e stress e coach individual.
Penso também num projeto mais alargado a nível Nacional com algumas valências de intervenção em crise. Este mais a longo-prazo. 
Quem quiser fazer uma consulta contigo, onde pode recorrer? 
Basta marcar consulta ou solicitar esclarecimento de dúvidas através do 91158258 ou ceder a www.madeinyou.pt. Podem também acompanhar as novidades no facebook: https://www.facebook.com/madeinyou.pt?ref=ts&fref=ts  Likes, likes likes !
A Made in You fica na Rua Serpa Pinto, nº 10, 2º andar, no Porto, no Edifício da Farmácia Barreiros.
 
Nunca pensaste em escrever um livro? São tantas as pessoas a publicar livros na área comportamental e de auto-ajuda? Nunca surgiu algo diferente neste formato? 
Já pensei sim e já tenho algumas ideias inovadoras nesse aspeto. Aguarda novidades! Dois anos no máximo J
 
O que te faz ser Feliz? 
Simplesmente estar em contacto com aquilo que eu Sou para optar e escolher de acordo com isso mesmo J.
Não faço depender a minha felicidade de acordo com o que eu posso repentinamente perder, porque inevitavelmente perderei tudo um dia. Posso sentir-me triste por vezes, alegre outras vezes, mas tento também não me identificar com estados passageiros, porque é o que são.
Sou otimista e se imagino algo no futuro, estou já a visualizá-lo agora.
Posso dizer que me sinto uma pessoa Feliz, mais ainda se vir os outros também assim.
 
Gostei muito de responder a esta Entrevista, extremamente bem estruturada e transportou-me ao meu passado, presente e futuro. Extremamente terapêutico! Obrigada Inês e Parabéns pelo projeto!
 
Espero que, depois desta conversa, se sintam preparados para mudar as vossas vidas para melhor... seja através de auto-análise, meditação, prática de Yoga, frequência de workshops ou, mesmo, arriscando uma destas consultas como desafio e barómetro do estado do caminho de cada um.
 
Raquel, muito obrigada... pela entrevista, por estares sempre aí...
Conta comigo para o grupo de meditação semanal...
Embora seja uma prática diária minha, em grupo, a energia é potenciada e o equilíbrio que cada um consiga alcançar é, por certo, ainda mais enriquecedor.
 
Caros leitores e amigos, obrigada por estarem aí e apoiarem este meu projeto de Conversas Felizes... prometo uma nova conversa igualmente interessante para muito breve...
Até lá!
 
Inês Monteiro

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