quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Zélia Évora




Conheci a Zélia pela Internet.
Através do Tricot, cheguei ao seu livro e comprei-o e, depois, curiosa pela originalidade das suas peças, procurei-a e encontrei todo um mundo diferente e que apetece vestir e usar.
Daí até à nossa conversa, não passou muito tempo..
Entre as Caldas da Rainha e a nossa querida Invicta costurou-se uma história com imagens reais.
Querem ver?
 
Quando nasceu a tua paixão pelos fios?... sejam de costura ou de tricotar?
Eu aprendi a tricotar aos 8, embora na altura fosse "aquela coisa que a minha mãe me ensinou". Mas, quando me apercebi que com o tricot eu podia criar, nasceu a vontade de fazer roupas para as bonecas. Com cerca de 12 anos fiz a minha primeira camisola em jacquard. Ensinava a minha vizinha (crescida) a fazer os vários pontos das revistas. No início, a costura e o tricot eram apenas passatempos...Apenas aos 42 anos, passaram para um outro patamar.
 
 
 
Em 2014, abriste o teu atelier, nas Caldas da Rainha, onde crias peças de autor… como as divulgas? Sentes que já há muita pessoas a passear a tua marca?
 
Sim, em 2014 fui despedida do meu emprego de administrativa ( que eu tinha há 24 anos) e tive de arranjar algo que fazer. Foi engraçado, o percurso. Fiz um chapéu e, ao "postar" no facebook, a Dulce Bragança comprou-o. Depois, foi um verão de fazer chapéus e de pensar que, se calhar, tinha encontrado o meu caminho. 
Com o crescente de linhas e fios pela casa, passou a ser incomportável trabalhar em casa e, estou desde dessa data, no Hotel Madrid.
A maior parte do meu trabalho é vendido atraves de "selfies" que tiro no imediato e, logo após terminar a peça. Se nao for vendida naquela meia hora, terei de tirar uma outra foto, num outro dia mais feliz. 
 
 
Que tipo de peças fazes? Alguma que te dê mais prazer “reinventar”? 
Comecei com os chapéus de verão, dupla face; passei para os de inverno, para a chuva, em burel e, depois as saias, as golas, bolsas... É um pouco na maré do que sinto, tentando sempre reaparecer com peças diferentes. Visto trabalhar com mulheres e, sendo uma, tenho noção de como funcionamos. 
Gosto muito de cores fortes (o oftalmologista diz que tem a haver com o facto de não ver de uma das vistas, mas eu penso que é apenas uma necessidade de barulho)!
De há uns meses para cá, tenho-me focado mais na Re-uZ, que é a minha marca de reutilização de gangas para fazer coisas "novas" e, confesso que, a peça que mais prazer me deu fazer foi a peça que vai seguir agora para o calendário do advento, em Braga, a convite da Vania Costa. 
 
 
O teu livro, “A Terapia do Tricot”, saiu do “Gang da Malha”? Como surgiu a oportunidade de puderes criar esta partilha?
O Gang da Malha foi algo que deu que falar e a Editora Esfera dos Livros convidou-me, nessa altura, para escrever um manual de tricot para iniciantes. Foi um trabalho de um ano, fora o ano das edições. É complicado escrever esquemas de tricot porque têm uma linguagem própria, e os textos sao difíceis de corrigir. Mas, parece-me ter corrido bem. Tanto que, em Junho saiu uma edição em castelhano, de que estamos orgulhosos.
 
Como são os teus dias? Obedecem a uma rotina ou são todos diferentes, ao sabor das encomendas?
Tem a parte de rotina, que eu preciso (sendo mãe de dois, tenho essa parte de sair de casa todos os dias à mesma hora) e comecam sempre apenas depois do café. Depois disso, nunca sei muito bem o que vai acontecer. Embora seja eu quem dirige o dia, fazendo as peças, publicando as fotos, existe uma parte muito intensa de comunicação que as clientes acabam por exigir e que, logicamente, influencia em que sentido vai o dia.
 
 
“Quando as peças que crio saiem pela porta do atelier, há sempre uma espécie de nostalgia”… Isto é porque… dás muito de ti nas peças que crias, investes muito tempo…queres comentar esta tua frase? 
 
 
Há uma espécie de apego nas peças. Não estou a criar em série, logo, cada peça é feita diferente, cada pormenor colocado conforme a disposiçao...se estou mais bem, ou menos bem, se é dia de rir ou chorar... Tenho um trabalho muito solitário e, criar não é algo simples. Logo, acabo por criar uma especie de relacão com as peças. Gosto de saber para quem vão, quem as vai usar, gosto de ver as foto já na sua nova casa...
 
 
 
 
O que fazes quando não estás a tricotar e/ ou costurar?
 Quase nunca não estou a fazer uma delas. Mas, provavelmente, não estando a fazer uma ou outra, estou com os meus filhos, a tratar, ou a brincar com eles. Quando trabalhamos nos moldes em que trabalho, nao tempos muitos "outros tempos" 
 
 
 
Também és Doula…. Queres desmistificar o que é uma doula e o que faz? Há quem as confunda com parteiras e… não é bem a mesma coisa…
 
 
Sou doula, embora isso, neste momento, não seja uma profissão e mais algo que faço por "chamamento". Penso que, uma vez nos tornamos doulas, jamais deixaremos de o ser/fazer. Há uma falta de informacão imensa, ainda, sobre o que é uma doula - que nada tem a ver com ser parteira.
Uma doula é uma mulher que acompanha outra na sua gravidez. Uma espécie de "ajudadora no caminho de uma gravida", alguém que te dá a mão e te ajuda a saberes como ter o teu parto de sonho.
Doulas não são nem parteiras, nem emfermeiras, não fazemos procedimentos médicos. Somos mais uma "personal trainer" de grávida. Não nos compete nenhum tipo de procedimento médico.
 
 
 
Tens acompanhado muitas grávidas?
 
Ao longo dos anos já acompanhei muitas, sim. Mas, ultimamente, só dou algum apoio emocional - especialmente, na amamentação. 
Ser doula implica estar disponivel 24 horas por dia, e eu nao posso sair de casa no meio da noite para cumprir esse papel, neste momento.
 
 
 
No meio desta manta de fios, tecidos e emoções, onde sentes que te encontras mais?
Aí mesmo. No meio disso. Sou uma pessoa muito emocional e é com os fios e linhas que eu comunico e exorcizo os meus medos do amanhã. É tambem, aí, nesse mesmo lugar, que uso estas armas para lutar por um sonho de amanhã.
 
 
 
O que te faz SER Feliz?
São muitas coisas que me fazem ser feliz... Passam pelos lugares e as pessoas onde eu vou buscar a energia e inspiracão. E isso, é transformado nas longas horas numa espécie de devolver a essas mesmas pessoas objectos plenos de memórias, risos, lágrimas. Afectos. As pecas mais bonitas que algum dia fiz são montadas numa armação de afecto dirigido a alguém em particular (seja essa pessoa quem for) ou alguém que conheci num segundo e quer comprar algo, ou alguém com quem tenho viículos mais fortes...mas, sempre numa construção de um alter-ego, como qualquer artista (julgo eu), onde a matéria e o tecido, ou a lã e a alma são essas mesmas pessoas.
 
 
 
E é com um enorme sorriso que, por hoje, terminamos, desejando à Zélia muita sorte e inspiração para as suas próximas criações!
 
 
 
 
 
 

 

 
 
 
 
 
 
 

 

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