André é filho de Roger
Sarbib, um pianista francês que deixou marcas no mundo do Jazz.
A sua boa disposição
como pessoa, aliada à mestria do improviso, fazem dele um dos melhores músicos
do nosso país e um ícone na aldeia global do Jazz…
Sentamo-nos junto ao seu
piano para mais uma conversa feliz e, entre notas pretas e brancas, aconteceu
uma entrevista colorida, realista e com caminho…
Querem espreitar?...
Nasceste e cresceste a
ouvir jazz. Que músicos pautam a tua infância? O que ouvias lá por casa?
Felizmente
cresci a ouvir jazz, e vários outros tipos de música, pois pra mim conheço
apenas dois tipos de música, a BOA E A MÁ. O meu pai também era
um grande pianista de jazz. Ouvia jazz da altura dos anos 30 aos anos 60, que
foram épocas fabulosas.
O piano foi o teu
instrumento de eleição, desde sempre?
O
piano sempre foi o meu instrumento de eleição, embora o instrumento que comecei
a tocar ao vivo quando tinha 8 anos fosse a bateria.
Começaste como e onde?
Tiveste aulas ou és um autodidacta?
Aos
6 anos de idade, já tocava algumas músicas no piano. O meu pai, vendo o jeito
que tinha, resolveu meter-me no conservatório do Porto. Mas, infelizmente,
apanhei com uma professora horrível que me traumatizou de tal maneira que, 6
meses mais tarde - isto na altura em que meus pais se divorciaram e ele foi
para a Madeira - eu saí imediatamente do conservatório. No 1º dia em que entrei
no conservatório tinha já 10 anos e como qualquer criança, quis mostrar as
minhas habilidades e as músicas que já tocava à professora. Ela logo me
repreendeu com reguadas e me disse: “Menino
isto aqui não se tocam estas coisas, isto aqui é ; dó, ré, mi, fá, sol,
etc, etc”. Por consequência tudo aquilo que sei devo a mim próprio,
podendo-me considerar um autodidata.
Costumavas ir a
concertos de Jazz com o teu pai e com o teu irmão?
Claro
que sempre que havia concertos, todos íamos. Só que, infelizmente, quase não
havia nessa época.
Achas que, muitos dos
grandes músicos do nosso país estão “escondidos” a tocar nos bares de alguns
hotéis?
Infelizmente
muitos dos grandes músicos andam escondidos a tocar nos bares de hotéis,ainda
por cima, mal pagos… e, outros, dando aulas para sobreviverem. E ainda há
grandes músicos acompanharem a dita música PIMBA também para poderem pagar as
contas!!!!
Quem são as tuas
referências no Jazz Nacional?
As
minhas referências no Jazz nacional são vários. Mas tenho alguns que me marcam
e me marcaram bastante, dos quais Mário Laginha, e Bernardo Sassetti, Pinho
Vargas, isto claro dentro da área do meu instrumento, porque depois tenho
vários relacionados com outros instrumentos.
O que poderia ser feito
para que as pessoas ouvissem mais jazz?
Que
os nossos políticos dessem mais cultura ao povo (que não lhes interessa),e que
deixassem de fazer por exemplo programas de televisão como fazem XAPA 3 em
todos os canais.
Do seu cd “This is it”, La Valse des Lilas
“Fly me to the moon”, no
Casino de Espinho, num Tributo a Frank Sinatra
Que conselho darias a um
jovem com apetências jazzísticas?
Que
ouçam bastante música desde os
primórdios do jazz ate ao momento atual, e como é obvio estudem e pratiquem o
mais possível. Embora o praticar só em casa não chega. É necessário praticar
com outros músicos e em locais que infelizmente também quase não os há.
Um palavra para cada um
destes músicos: Abel Xavier, Mário Laginha, Miguel Braga, Maria João e… Bernado
Sassetti…
Alguns
deles já os mencionei a cima. Mas qualquer um dos outros são ENORMES músicos e
compositores.
Tu és, acima de tudo, um
músico de palco. Como é o teu público?
Eu
acho que felizmente ao fim de 47 anos de carreira, suponho ter granjeado já um
público que me é fiel, e isso é muito gratificante, e estou muito grato por
isso, e, é por eles que sempre tento melhorar e ser melhor profissional.
“How Insensitive/
Insensatez”, em Junho de 2014, na Casa da Música, no Porto – Tributo a António
Carlos Jobim
Com quem gostarias de
partilhar o palco?.. – uma pessoa que gostes muito e ainda não tenhas tido a
oportunidade de trabalhar com…
São
vários os músicos com quem gostaria muito de partilhar o palco. Felizmente
alguns já consegui partilhar. Minha querida, são tantos com quem gostaria de
partilhar, que nem me atrevo a enumerar…
Aqui, André Sarbib,
partilhou o palco com Paulo de Carvalho, entre outros…
Um diálogo entre voz e
piano… um reforça o que o outro diz num crescendo onde se juntam bateria, baixo
e trombone numa feliz homenagem a António Carlos Jobim, na Casa da Música.
Existem técnicas de
improviso, no jazz?
Claro
que existem várias técnicas de improviso, e essas são as de cada um. Cada
músico tem a sua própria técnica que a desenvolve ao longo dos anos. Mas
técnica mesmo só há uma, é a que se aprende nas escolas. Depois cada um
desenvolve a sua.
Achas que, este género
musical, o jazz, está muito centralizado nas grandes cidades como Porto e
lisboa? O que falta para se estender a outras localidades?
Felizmente
hoje em dia já se estende a outras grandes cidades da província, talvez quase
tanto como nos grandes centros urbanos (Lisboa e Porto),Basta ver o inúmero
festivais de jazz que existem no país.
Como olhas para o
Festival da Canção? E para os concursos de “talentos” como “The Voice Portugal”
e “Idolos”?
Já
fui por 3 vezes júri do festival da canção, mas numa altura em que ainda se
faziam canções…….suponho estar tudo dito a este respeito.
Sobre
“the Voice of Portugal”e similares, acho bem porque sempre se descobrem novos
talentos e alguns mesmo muito bons e isso é muito positivo.
Tu não tens concertos todos os dias... estás a
tocar em algum sítio, neste momento? Dás aulas?
Minha
querida, infelizmente, não tenho concertos, nem todos os dias, muito menos
todas as semanas e nem todos os meses… Há que ter, também, alguma dignidade e
não trabalhar por qualquer preço. Se querem bons músicos (modéstia à parte) têm
de pagar um pouco mais do que o habitual…
Neste
momento, estou a dar algumas aulas a músicos que queiram tocar de uma maneira
mais personalizada standards de jazz, música brasileira e não só.
O que te inspira?
O
que me inspira, acima de tudo é o sentir-me bem comigo próprio, o sentir que
sou amado e que amo também.
O que te faz falta?
Nada
me faz falta se tudo que me rodeia estiver bem ………..
O que te faz Ser Feliz?
O
que me faz sentir feliz, uma vez mais; O sentir-me amado, o sentir que amo o
próximo,ter saúde, comer bem e muita música.
Ainda embalados pelo
encanto destas interpretações cheias de entrega e vida, não fechamos o pano a
este palco e prometemos voltar em breve com mais conversas.
Ao André Sarbib,
agradecemos o tempo e verdade numa conversa de amigos!
Muito obrigada!
Inês Monteiro
Gostei sim!
ResponderEliminarHá músicos escondidos em todo o lado ... o jazz tem poucos sítios para se mostrar. e depois é como diz o André: há que lhes pagar condignamente. Eles também têm vida!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarUma entrevista muito colorida, muito boa mesmo... e mostra-nos algumas realidades que não deveriam existir.... todos os bons profissionais (em todas as áreas) deveriam receber condignamente pelo exercicio das suas funções....
ResponderEliminarParabéns Inês! Uma conversa deliz muito boa!